31 de dez. de 2009

Balanço do ano

Foram 134 posts em 10 meses de existência - mais do que um a cada 3 dias. Falamos de novas tecnologias; das mudanças estruturais no mundo da música; das novas estratégias de lançamento, distribuição e marketing; lançamos um e-book e, principalmente, percebemos a informação se disseminando. Já há muito diálogo onde antes havia apenas perplexidade. Tenho certeza de que muita gente já parou de reclamar do novo mundo e começou a se mexer. Acredito que, nesse ano, muito será colhido.

Temos um festival alternativo capitaneado pelo Movimento Música Para Baixar para colocar no ar, muita gente tem criado suas próprias oportunidades e vários artistas já têm colhido frutos com a internet.

No exterior, esperamos pela chegada do Spotify nos EUA para ver o que vai acontecer.

O contrário de esperança não é desespero, é ação. Nada de esperar pelo novo modelo que vai cair do céu! Queremos poder relatar casos bem sucedidos de carreiras 2.0. Escrevam, colaborem, contem suas histórias.

Feliz 2010 para todos nós e muita música para todos os momentos.

17 de dez. de 2009

Falar é fácil. Mãos à obra, moçada!



Alguns comentários no Twitter sobre o post de ontem me forçaram a escrever esse novo texto. Quero esclarecer que não estou descontente ou desanimado com a nova cena. O que tem me cansado é tanto discurso para tão pouca mudança de hábitos e atitudes. Tanta inércia.

Tudo bem, temos que nos conectar com os fãs e dar a eles uma razão para comprar o que temos a oferecer. A música gratuita é uma ferramenta de divulgação. A música está deixando de ser um produto para virar um serviço. Já fizemos o nosso dever de casa e aprendemos com os pensadores. Alguns poucos resultados práticos confirmam as teorias.

Mas, falar é fácil. Realizar é muito mais difícil. O próprio Gerd Leonhard admite isso em suas palavras. “Meu trabalho é encontrar novas ideias para os novos tempos. Por sorte, não sou eu quem tem que implementá-las.”

Vamos continuar pensando e pesquisando. Mas essa massa crítica ainda não se tornou uma prática social. Os artistas ainda não se manifestaram a respeito do que está acontecendo no seu universo, nem se mexeram para entrar no novo mundo. E já não podem contar com o antigo.

A maioria dos artistas fica paralisado, esperando que um novo modelo surja do nada, um novo tipo de gravadora 2.0 que resolva os nossos problemas. E isso pode nunca vir a acontecer. Ou demorar tanto que tenhamos que encontrar outra forma de subsistência. Mas preferimos nos lamentar.

Antes que ideias tão boas fiquem velhas e cansadas, sem nunca terem sido experimentadas, vamos à luta.

Tudo que tem se falado até aqui supõe os artistas correndo sozinhos. Acho que o erro está nesse isolamento. Em aceitarmos os pequenos nichos que o novo mundo nos reserva. É hora de nos juntarmos, de colaborarmos, de acabarmos com a segmentação inventada pelos marqueteiros e pôr a mão na massa coletivamente.

Estamos dando um ponta-pé inicial nessa nova postura hoje, 17/12/2009, às 16:00h na UFRJ da Urca. Detalhes no post anterior.

16 de dez. de 2009

Por que estamos escrevendo menos? Tempos interessantes?



As ideias se derramam pela rede - e se repetem

Quem acompanha nosso blog desde o começo deve ter percebido que os posts já foram muito mais freqüentes. Foram 80 textos e vídeos nos primeiros 5 meses, contra apenas 29 nos 5 meses seguintes. Ficamos mais preguiçosos? Mais ocupados? Também, mas o principal motivo é a falta de ideias novas no ar.

Quando começamos o Música Líquida, quase não havia informação disponível em português sobre os rumos do negócio da música. Saímos coletando tudo que já tínhamos lido e tudo que encontrávamos pelo caminho. Com o Twitter, repentinamente, todo mundo tinha acesso a links do mundo inteiro e a informação começou a fluir mais abundantemente das torneiras virtuais de nossos computadores. Outros sites e blogs começaram a prestar o tipo de serviço que vínhamos oferecendo. E acho que fomos bastante importantes nesse movimento.


O Lugar-Comum

De repente, termos como “monetização”, “receitas”, “freemium”, “economia da atenção” e diversos outros, se tornaram quase uma praga, de tão constantes. Em diversas situações eu ouvi “especialistas” dizendo que está tudo resolvido: se você entrar em contato com o fã, tiver seus perfis nas redes sociais, der músicas, tiver um bom show e criar um vídeo viral – como se isso fosse algo simples de fazer -, sua carreira está muito bem encaminhada. Ei, eu tenho feito tudo direitinho e sei que os resultados são bem menores e mais lentos que isso!

É claro que muitas dessas novas ideias ainda não chegaram ao grande público. Ainda é comum ouvir das pessoas por aí que a internet acabou com a música, ou que quem baixa música de graça é pirata. Mas essas pessoas não costumam ler o Música Líquida.




Tudo igual

Acontece que as ideias são as mesmas. Pouca coisa nova está sendo dita. O Gerd Leonhard veio ao Brasil para a Feira da Música e repetiu tudo que eu já tinha ouvido dele em suas palestras disponíveis no YouTube. Seus livros de vários anos atrás continuam atuais. Ou seja, continuam prevendo um futuro que ainda não virou presente. E a mesma pergunta ficou sem resposta: qual a nova forma de ganhar dinheiro usando as armas da tecnologia?

É claro que vimos acompanhando as notícias do nosso negócio: a Apple comprou o LaLa e deve iniciar algo relativo à música nas nuvens; as gravadoras criaram um site de vídeos para elas, o VEVO, que deve ser remunerado – como?, ainda não foi dito -; Spotify ganha tração na Europa, mas ainda não chegou aos EUA. Mas não tem rolado nada que nos chame a atenção nem em termos de tecnologia, nem quanto aos resultados. Os cases citados em qualquer palestra são sempre os mesmos: NIN, Corey Smith, Teatro Mágico etc.

Outro dia, via Twitter, o Rick Bonadio disse que em breve a tecnologia impediria o download gratuito e que tudo iria se resolver naturalmente sem necessidade de se dar música. Inclusive afirmou que quem dá música é estúpido. Imagina a confusão que rolou! Ou seja, a indústria continua achando que vai colocar o gênio de volta para dentro da garrafa.


Só quero saber do que pode dar certo

Apesar de parecermos viver num turbilhão de mudanças sociais e tecnológicas, as coisas, para nós que fazemos música, estão mudando muito pouco. O futuro é a solução. Só que o futuro nunca chega. Afinal, só se vive no presente. Por isso, quero concentrar meus textos no que pode ser feito na prática.

É claro que ideias e novidades farão parte do cardápio, afinal nós adoramos esses tempos interessantes. Mas, é minha impressão, ou eles não estão tão interessantes assim?




Mudando o sentido do termo “Alternativo”

Conversando com o Tico Santa Cruz por telefone, por conta do nosso encontro na UFRJ, me deparei com um observador muito lúcido, falando de ações, mais que de conceitos.

Decidimos que o nosso encontro terá por finalidade organizar um festival de grande porte para artistas com ideias iguais às nossas, usando todas as armas que estiverem ao nosso alcance. Não é para ser alternativo no mal sentido - naquele da pequenez e falta de recursos -, mas para ser a alternativa ao que já apodreceu e não serve mais para os dias de hoje, às formas de divulgação usuais, ao jabá, à indústria e à mesmice. Artistas de grande público ajudarão o caminho dos menores. Divulgação coletiva, mistura de estilos, colaboração, serão as bases dessa caminhada.

Nossa conversa será transmitida pela web no http://pontaodaeco.org às 16:00h dessa quinta-feira, 17 de dezembro.

Espero ter muito o que dizer daqui para frente

13 de dez. de 2009

Gerd "Media Fururist" Leonhard em Recife



Vejam só. O Gerd Leonhard não só se apresentou em Recife na Feira Música Brasil como disponibilizou em seu site a apresentação feita especialmente para o evento - e que nós "embedamos" aqui.

Ele bota fé na importância do Brasil na criação de novos modelos de negócio para a música e cita a célebre frase de Clair Shirky: "A revolution doesn't happen when a society adopts new tools. It happens when a society adopts new behaviors" – se bem que para adotar novos comportamentos, muitas vezes só seja possível após o surgimento de novas tecnologias, não é mesmo?


Aproveito para mostrar com uma pontinha de orgulho e imodéstia a identidade da Feira, criada pelo meu escritório de design, a Tecnopop.

11 de dez. de 2009

Criando uma nova cena musical alternativa



Estou ajudando a organizar um debate, ou melhor, um diálogo sobre a criação de uma nova cena musical alternativa. "Alternativa" deixou de ser uma expressão para designar o que não alcançou a grande mídia para recuperar seu sentido de “outra solução”, “outro caminho”. Talvez a grande resposta quando se está sem caminhos.

Pensando grande, vamos nos reunir, Tico Santa Cruz, O Teatro Mágico, For Fun, Bruno Levinson da MPB FM e alguns outros artistas, pensadores e produtores e imaginar formas de juntar esforços e públicos, independente dos estilos musicais e criar festivais e outros eventos que chamem a atenção de forma mais impactante.

Todo o diálogo será transmitido via internet. O encontro será na quinta-feira, às 16:00h na UFRJ da Urca. Vejam os detalhes:

“Diálogo: Como construir uma cena da música independente sustentável?

A partir da afirmação, "Um mundo acabou. Viva o mundo novo!" presente no manifesto música para baixar, é que devemos refletir, aprofundar e projetar uma nova cena da música independente no Brasil, que se adapte às novas tecnologias e reúna criadores, produtores e usuários da música, com disposição e atitude para coletivamente construir novos modelos de negócios viáveis e sustentáveis para os tempos em que vivemos.

As ideias que apoiamos necessitam de tempo para se disseminar, e nós, que vivemos de música, não podemos esperar de braços cruzados enquanto a indústria e as leis não se adaptam à nova realidade. Baseados nos preceitos do movimento Música Para Baixar, temos que criar, hoje, uma cena alternativa. Como o antigo sistema ruiu e não funciona mais para ninguém, sejamos os criadores da nova realidade, os líderes da viagem ao novo mundo, a alternativa real. A tecnologia nos deu as ferramentas necessárias para essa tarefa, que, cada vez menos, necessita de intermediários entre artistas e público. Temos feito isso sozinhos. Agora, vamos fazê-lo juntos.

Vamos reunir ideias de artistas, produtores, consumidores e pensadores para formar novos públicos e oferecer outras formas de criação e consumo de música. Queremos fortalecer uma nova cena que seja economicamente sustentável para se contrapor ao modelo que recebemos.

Para esse diálogo estão convidados:

- Leoni / Movimento MPB
- Tico Santa Cruz / Detonautas
- Fernando Anitelli / Movimento MPB / Teatro Mágico
- Everton Rodrigues / Movimento MPB, Software Livre / Teatro Mágico
- Marcos Sketch / Forfun
- Adriano Belisário - Pontão de Cultura ECO/UFRJ
- Bruno Levinson / Rádio MPB fm
- Walter Abreu - Showlivre.com

Mediação: Professora Ivana Bentes, Diretora ECO/UFRJ

Data: 17 de dezembro
Horário: 16h
Endereço: Av. Venceslau Bras, n° 71, Fundos - Botafogo. Escola de Comunicação da UFRJ - Campus Praia Vermelha - Mapa - http://pontaodaeco.org/como-chegar

O evento é aberto para todos os interessados

Transmissão ao vivo (streaming) - pontaodaeco.org

Realização: Movimento Música para Baixar

Apoio: Pontão de Cultura ECO/UFRJ”

8 de dez. de 2009

Pirataria 2.0

Deu no Webinsider em 3 de dezembro mais um bom artigo do Paulo Rebêlo. Para aprofundar o tema, sugiro seguir os links presentes ao longo do texto.

***

Você não paga pelo produto original, mas vai pagar pelo download ilegal. É a lei do mercado aplicada à risca pela indústria e pelos piratas.

Por Paulo Rebêlo

Passados dez anos do emblemático caso Napster vs Metallica, a indústria de entretenimento mirou onde viu e acertou onde não viu.

Pirataria 2.0 é quando você não se importa mais em pagar para ter acesso privilegiado (e ilegal) a todo tipo de conteúdo: filmes, música, pornografia, seriados, desenho animado, livros.

Conteúdo que até agora você sempre teve de graça. E em apenas uma fração de minuto pela conexão banda larga.

É extensa a lista dos sites que foram fechados e das tecnologias que desapareceram nesse intervalo de tempo. O golpe de misericórdia veio agora, final de 2009.

Após uma longa jornada de batalhas judiciais, conseguiram fechar ou intimidar sites outrora considerados imunes à perseguição. Caso do Demonoid, Mininova e The Pirate Bay, por exemplo.

Sobrou pouco. Alternativas menores e menos populares continuam disponíveis enquanto brigam judicialmente, fazendo com que advogados repensem uma série de princípios das relações comerciais e diplomáticas entre países.

Quem acompanha de perto o cenário tem até medo de ser processado ou perseguido por baixar arquivos da internet. Os precedentes são numerosos e a paranóia da indústria parece não ter limites.

Hoje temos provedores abrindo a conta de usuários “sob suspeição”. Temos operadoras sendo coagidas a capear a velocidade de conexão quando detectam o uso de protocolos para compartilhamento descentralizado, como torrent ou peer-to-peer (P2P).

Ocorre que nem sempre há coerção. Porque não há sequer uma mínima regulação sobre o assunto. Aqui no Brasil a gente sabe como, quando, onde e quem faz isso. Operadoras chegam a capear, limitar ou bloquear até mesmo conexões VoIP para você desistir de fazer ligações interurbanas (DDD) usando o Skype.

E não fazem a menor questão de especificar esse “recurso” em contrato. Aquele mesmo contrato que você assina sem ler. É todo o respaldo jurídico de que precisam. Sem um marco regulatório claro, não estão exatamente cometendo uma ilegalidade.

E o limbo entre a ilegalidade e a imoralidade é muito tênue.

Aqui o jogo começa a esquentar. Há exatos dez anos se fala em neutralidade de rede (net neutrality) e o conceito nunca deixou de ser exatamente isto: um conceito.

São centenas de teses de doutorado, estudos técnicos e extensos relatórios sobre a neutralidade de rede. Pode fazer o download desses documentos, não é pirataria.

Na prática, neutralidade de rede nunca saiu do papel. É uma regulação que só interessa ao consumidor, não interessa a nenhuma indústria.

Com tanta dedicação a coibir o uso de redes compartilhadas, a indústria não levou em conta que a falta de marcos regulatórios vale para todos.

E criou um monstro sem querer.

A pirataria depois de amanhã

É óbvio que a pirataria organizada (em alusão proposital ao crime organizado) iria achar solução. Sempre achou. E não tem nada de Sun Tzu.

Você vai pagar, mas não será para as detentoras das marcas ou dos direitos autorais. Não vai pagar pelo produto legalizado. Você vai pagar para fazer o download do conteúdo pirateado mesmo, por meio de redes particulares ou hubs criptografados que vão indexar e hospedar todo esse material. Como se fosse o cofre de uma conta bancária na Suíça ou o papel moeda das Ilhas Cayman.

Pirataria 2.0 já começou. E estão usando as mesmas armas da indústria.

A função do camelô da 25 de março em São Paulo ou do atravessador da Feira dos Importados em Brasília continuará a mesma. Só que além de vender jogos piratas do Playstation e o novo Windows, você também vai comprar uma senha para ter acesso a uma rede privada, anônima, criptografada. Uma rede própria da “loja” ou de um pool de piratas organizados.

Ele pode lhe vender um pendrive com o acesso que você precisa. Ou simplesmente escrever num papelzinho o endereço HTTPS e lhe vender só a senha. Até a sua bisavó vai saber digitar no Firefox. Mais fácil, impossível.

Neste exato momento, há um custo de manutenção sendo pago por um número mínimo de pessoas ao redor do mundo. Essas redes trabalham com criptografia, com transferências seguras via SSL por FTP e até mesmo usando pontos de presença móveis.

Várias delas usam os mesmos protocolos e certificações usados pelos sites de comércio eletrônico para garantir a privacidade e segurança do seu cartão de crédito.

A idéia nem é nova, está presente no submundo da internet há bastante tempo. Só nunca teve aceitação popular, nunca se popularizou como está sendo agora. Via de regra porque todo esse mundo de conteúdo ilegal ainda pode ser encontrado de graça, sem pagar nada.

Mas esses dias estão contados.

Até pouco tempo atrás, pensar em pagar por uma espécie de Napster privativo parecia loucura. Todos que tentaram (inclusive o próprio Napster) falharam.

Acontece que todos tentaram com conteúdo específico (nicho) e material legalizado (direitos autorais), um verdadeiro entrave se consideramos todas as amarras comerciais e jurídicas do processo. É o exato oposto das redes de compartilhamento que conhecemos até hoje e por onde transitam os terabytes de conteúdo ilegal a cada minuto.

Esse período de agora vai ficar marcado como o fim de uma rede de sistemas e protocolos baseada no compartilhamento de arquivos ilegais.

De agora em diante, quem antes compartilhava vai oferecer os mesmos arquivos ilegais, pela internet, do mesmo jeito. Só que por um preço. E muita gente já quer e vai querer pagar, pela facilidade e comodidade.

O embrião da Pirataria 2.0 está com grupos profissionais de piratas e contas pagas em serviços como o Rapidshare, um dos redutos o qual a indústria ainda não conseguiu – e nem vai conseguir – interromper. Sabe por quê?

Porque aqui não é a lei da selva que predomina, onde apenas o mais forte sobrevive. A indústria sempre foi e sempre será um grão de areia frente às possibilidades das redes telemáticas.

Trata-se simplesmente da boa e velha lei de mercado. Onde houver demanda, haverá oferta. Nunca deixou de ser assim. Se fechar uma porta aqui, ali na frente abrem duas.

Sites como Rapidshare ainda precisam de indexadores, no sentido de você saber o link exato ou onde encontrá-los. Ainda precisam de atravessadores, digamos assim.

Além de voltar a usar HTTP em redes privadas, a Pirataria 2.0 começa a adotar protocolos que perderam popularidade com o passar do tempo, como o FTP e a Usenet. Estão voltando a abolir a necessidade de indexadores. Só quem vai saber é quem for sócio.

É assim que funciona quase todas as redes de pedofilia, detalhadas ao extremo em relatórios produzidos pelas polícias internacionais e pelas instâncias jurídicas de todos os países.

Todo mundo sabe como funciona, mas ninguém consegue fechá-las. Por que? Pergunte a qualquer juíz se existe luz no fim do túnel.

As redes privadas e criptografadas da pirataria 2.0 vão funcionar quase como uma aldeia indígena no Brasil. Mesmo que haja suspeita de atos ilícitos lá dentro, ninguém entra sem uma autorização expressa da Funai.

Acontece que no ciberespaço não existe Funai. Os diversos órgãos regulatórios funcionam de direito, não funcionam de fato. Porque nunca foi interesse do mercado, não é interessante criar marcos regulatórios para o mercado.

Exceção à regra são alguns poucos países da União Européia, onde a cultura regulatória socialmente direcionada está mais presente. Não à toa, são os mesmos países criticados e combatidos pelas maiores corporações. Pensou na briga judicial Microsoft vs UE? Pois é. E ela é apenas uma.

Olhe para as agências reguladoras no Brasil (Anatel, Aneel e outras quitandas) e tire sua própria conclusão. Não ache que em outros países é muito diferente. A maioria dos órgãos com competências similares são meros mostruários de boas intenções sem a menor aplicabilidade.

Ou será à toa que o Brasil é o país com as tarifas de telecomunicações mais caras do mundo?

Sobre a pirataria de hoje

Se a boa intenção é conter a pirataria de software e conteúdo ilegal, é preciso deixar bem claro: só existem dois fatos concretos, o resto é opinião e ideologia:

1) Pirataria (ainda) é crime e sites indexadores de torrent são, sim, uma fonte irrestrita de pirataria. É pueril adotar o argumento de que esses sites não hospedam os arquivos, mas apenas apontam o caminho de onde estão; logo, não poderiam ser incriminados.

2) Partindo da premissa 1, se indicar o caminho para conteúdo ilegal vai passar a ser configurado juridicamente como oferta de conteúdo ilegal, então é preciso fechar toda a internet. A começar pelo Google.

Pelo Google eu encontro qualquer torrent. Pelo Google e por qualquer outro mecanismo de busca, eu encontro redes públicas e privadas de pedofilia, remédios falsificados para comprar, contato de grupos de extermínio ou posso simplesmente achar linhas de código que me permitam descobrir senhas de terceiros.

Vamos fechar o Google? Vamos exigir uma autorização especial para usar internet, tipo uma licença de uso ou carteira de motorista?

Enquanto não houver regulações claras sobre a atuação das corporações e fiscalizações peremptórias por parte dos órgãos regulatórios, a lei do mercado sempre vai prevalecer.

E isso não é necessariamente ruim. É quando entra a ideologia de cada um. A lei de mercado sempre foi o desejo da indústria, para defender “os interesses dos artistas” (copyright) e “combater o tráfico de drogas” (o discurso atual). Sem esse desejo incontrolável e tão perseguido, não teríamos a Pirataria 2.0 que surge no horizonte.

Porque agora os interesses são mútuos.

***

Paulo Rebêlo (rebelo@webinsider.com.br) é subeditor sênior do Webinsider e cronista bissexto na Hipopocaranga.

23 de nov. de 2009

Zerando o Copyright em 2013


Deu na Revista Digital de O Globo de hoje:

* * *
O fim é em 2013
Lei americana permitirá a artistas e escritores retomar direitos autorais

André Machado

No que diz respeito ao delicado terreno do entretenimento digital, podemos apostar que o fim do mundo não será em 2012, como quer o filme de Roland Emmerich, mas em 2013. A partir de então, as últimas três décadas da indústria cultural como a conhecemos poderão ir pelos ares graças à letra fria da lei — pelo menos a dos EUA. Isso porque, em 1976, o Congresso americano aprovou o Copyright Act, especificando que, se um compositor ou escritor vendeu os direitos de suas obras a uma gravadora ou editora antes de 1978, tem o direito de retomá-los 56 anos depois da venda (o que já permite a retomada, este ano, de quem gravou ou escreveu algo e cedeu os direitos até 1953, lá).

Pode ser um golpe duro para a indústria musical, que tem recorrido a tudo para se manter em pé — de ringtones de celulares a investimentos em turnês e shows, sem falar dos jogos do tipo Guitar Hero e Rock Band. E as editoras não ficam atrás, a vingar a onda iniciada pelo ereader Kindle, que já tem como concorrentes Sony Reader, Nook (da Barnes & Noble) e, recentemente, até o Intel Reader, capaz de passar converter textos impressos em forma digital. E sem falar de redes P2P, blogs e torrents com toneladas de ofertas de downloads, projetos como Google Editions e assim por diante.

Tudo isso está registrado na seção 304 da lei (www.copyright.gov/title17/92chap3.html#304.) Já na seção 203 está escrito que essa mesma retomada de direitos pode ser levada a cabo 35 anos depois da venda, se ela ocorreu depois de 1º de janeiro de 1978 (www.copyright.gov/title17/92chap2.html#203).

Esses 35 anos da última provisão citada vencem exatamente a partir de 2013, quando os artistas podem requerer de volta seu copyright e revendê-lo diretamente — pela internet... — sem a necessidade de intermediários.

Ainda há muito ranger de dentes, mas o desfecho da história pode não ser negativo.

Pelo contrário, afirma Renato Opice Blum, advogado brasileiro especializado em direito digital .

— A retomada dos direitos autorais certamente vai mexer com o mercado, gerar novas negociações e contratos e levar a um melhor aproveitamento das novas tecnologias — diz ele.

Existe um outro aspecto dessa “bomba-relógio” jurídica, que se aplica também ao Brasil, segundo o advogado e presidente do iCommons Ronaldo Lemos.

Nos contratos de artistas e autores brasileiros com as empresas, a questão é diferente da que está acontecendo lá fora.

— Nossa bomba-relógio é outra. Ela consiste no fato de que sempre que um artistas cede suas músicas para a editora, ele autoriza apenas o uso nas tecnologias existentes no momento da cessão — explica o presidente do iCommons. — Em outras palavras, muitos artistas que fizeram contratos nos anos 80 e até nos anos 90 não podem ter suas obras exploradas em ringtones de celular, internet e outras formas de utilização inexistentes até então.

Nos últimos tempos, encarniçadas batalhas judiciais pelos direitos autorais têm sido travadas nos EUA. Os herdeiros do escritor John Steinbeck (dos clássicos “As vinhas da ira”, “Sobre ratos e homens”), por exemplo, ganharam em 2006 e perderam em 2008 os direitos sobre seus livros, que ficaram com a Penguin Books. Já em agosto deste ano, os herdeiros de Jerry Siegel, um dos criadores do Super-Homem, ganharam os direitos sobre as primeiras histórias publicadas do herói, numa disputa com a Warner Brothers e a DC Comics.

Segundo o site Law.com, especializado em Direito, esses processos vão ficar ainda mais beligerantes a partir de 2013. De acordo com o site, advogados a serviço de artistas e grupos como Eagles, Journey, Barbra Streisand e outros já estão em campo pesquisando o estado de contratos antigos de seus clientes.

— Algo parecido está acontecendo aqui no Brasil.

Artistas como Gilberto Gil, Zé Ramalho e Chico Buarque estão pleiteando nos tribunais interpretações para retomar os direitos que cederam às editoras — lembra Ronaldo. — O fundamento é diferente dos EUA, não por conta de tempo, mas de outras peculiaridades da lei brasileira. A decisão do Gil saiu há alguns anos e ele conseguiu reaver na Justiça todos os seus direitos. O Chico e o Zé Ramalho ainda não têm decisões finais.

Richard Stallman, pai do movimento do software livre e um dos ativistas mais ferrenhos contra o estado atual do copyright, diz num ensaio que a própria concepção dos direitos autorais levou a distorções.

— O sistema de copyright provê privilégios e benefícios a autores e editores, para incentiválos a escrever mais e publicar mais, em benefício do progresso e do público — diz Stallman, que aponta o erro de dar poder excessivo aos editores por longos períodos.

— Mas, se o copyright é uma barganha feita em nome do público, deveria servir ao interesse deste acima de tudo. Eu jamais comprarei um desses e-books encriptados e restritos [leia-se Kindle, por exemplo], e espero que vocês os rejeitem também.

É o caso de esperar para ver o que os artistas farão quando lhes couberem a faca e o queijo na mão. Se a indústria deixar. Em 1999, tentouse uma emenda ao Ato de 1976, que não vingou.

Uma alternativa, ao menos para a indústria musical, seria gravar novas versões de velhas músicas, para criar novos prazos de direitos autorais, e deixar os antigos com os artistas.

Por ora, fica um bom exemplo do grande mestre Ray Charles, que negociou seu contrato com a ABC Records e pediu que os masters de suas gravações pertençam a ele. A reação do dono da gravadora foi algo como “Mas ninguém faz isso...”. Entretanto, o cantor conseguiu: o acordo, de novembro de 1959, deu-lhe o direito de reter todos os seus masters após a conclusão do contrato, garantindo-lhe segurança financeira. Um acordo mais liberal do que muitos artistas pop tinham então — e ainda hoje!.

20 de nov. de 2009

Discotecando via iPhone



Esta semana fiz duas descobertas interessantes.

A primeira foi o site Create Digital Music. Como o nome indica, é um repositório de notícias, resenhas e recursos para quem faz música digital.

A segunda foi o que descobri nesse site: um aplicativo para iPhone chamado TouchDJ, que permite que você mixe e faça o trabalho de um DJ no iPhone. Apesar de haver nos comentários do site algumas críticas a limitações impostas pelas Apple, o app me pareceu realmente tentador:

  • “Visual mixing,” com uma interface esperta que usa camadas e waveforms lado a lado.
  • Escuta prévia usando um adaptador esquerda-direita.
  • Imita efeitos de vinil e spin.
  • Scratching em tempo real, looping, positioning, EQ, efeitos e re-pitching.
  • Sampler com 3 slots de sample WAV, gravação a partir do microfone.
No entanto, usa uma biblioteca separada de mP3, desde não é possível discotecar a partir da library que você está sincando do iTunes (sendo esta limitação o maior alvo das críticas).
Ah, vi lá na App Store que o brinquedo custa $19.99.

Mais informações, leia no Create Digital Music e no Digital Noise.

17 de nov. de 2009

Vocês conhecem o TunesPro? Deviam.


Eu ainda não estou acreditando nesses TunesPro. Fiquei anos torcendo para que o iTunes chegasse por aqui e agora, sinceramente, não me importo mais. Enquanto a loja da Apple vende faixas a $ 0,99, a concorrente vende a $ 0,19. No TunesPro as faixas são vendidas em MP3, sem DRM, livres para sempre. E o melhor, não é necessário ter um cartão de crédito com endereço de cobrança nos Estados Unidos.

Com meu cartão Visa eu coloquei um crédito de $ 15,00 na loja e baixei 7 álbuns! Para quem é curioso, aqui vai a lista: Secret, Profane And Sugarcane do Elvis Costello, Plains do Death Cab For Cutie, Raising Sand do Robert Plant e Alison Krauss, Covers e Gorilla do James Taylor, Wilco (The Album) do Wilco e The Pursuit do Jamie Cullum. E ainda sobraram uns centavos para faixas extras!

Recomendo a todo mundo que gosta de ter os discos completos. E por um preço irresistível!

13 de nov. de 2009

O melhor e o pior das listas



Mais um petardo do nosso amigo Beni Borja.

* * *

Em outros tempos, quando eu raramente usava dinheiro de plástico, meus recibos de compras em cartão de crédito saiam da minha carteira para serem arquivados. Em algum momento os papeizinhos seriam analisados, e serviriam para controlar meus gastos e conferir a cobrança das despesas do cartão.

Hoje , até camelô aceita cartão. E os recibos se avolumam de tal forma na minha carteira , que regularmente sou obrigado a dar a eles um destino. Então ,depois de alguns instantes de culpa, as dezenas de recibos que juntei são inapelavelmente remetidos para a lata de lixo.

A culpa pela eliminação das provas do meu descontrole financeiro, é sempre ultrapassada pelo simples reconhecimento que eu jamais terei tempo de arquivar e conferir todos aqueles recibos.

Toda informação é inútil se não for arquivada e processada. Manter arquivos é uma coisa que dá um trabalho medonho, processar as informações contidas neles o grande sorvedouro de tempo que esgota as nossas vidas.

O desenvolvimento dos métodos de classificação é a grande invenção ignorada da humanidade. Foi a capacidade de organizar o conhecimento em categorias e índices, que possibilitou a humanidade acumular informações muito além da memória individual de qualquer um.

Por isso, compreendo perfeitamente essa psicose por listas que nos aflige nos últimos tempos. Fazer uma lista é o primeiro passo de qualquer processo de classificação.

Ter toda a música gravada do mundo disponível para consumo imediato a qualquer instante, exige de nós, amantes da música, uma completa reorganização de nossos sistemas de classificação, uma tarefa hercúlea, para a qual a mídia pretende colaborar elaborando listas.

Os mil discos que você precisa ouvir antes de morrer, as cem melhores músicas de todos os tempos, os dez lançamentos obrigatórios do ano, essas e uma infinidade de outras, são tentativas de nos ajudar a navegar o mar de música que subitamente entrou nas nossas possibilidades de audição.

O problema é que esse bem intencionado esforço classificatório esbarra na natureza da obra de arte.

Podemos afirmar que o Usain Bolt é o melhor corredor de cem metros do mundo, porque ele correu mais rápido que os melhores do mundo nessa modalidade. O critério de comparação é simples e objetivo, quem faz o percurso no menor tempo é o melhor.

Arte não é esporte. Não existe o melhor guitarrista, o pior disco, o melhor show ou o pior cantor. Não há melhor ou o pior, simplesmente porque não há como comparar.

A única maneira de comparar coisas diferentes é pela função. Podemos fazer uma lista das melhores pastas de dente porque, embora sejam diferentes entre si, elas servem ao mesmo propósito: limpar os dentes. Então, as que limparem mais os dentes serão as melhores.

Criações artísticas não vêm com instruções de uso como pastas de dente, porque elas servem funções diferentes, para diferentes consumidores. Essa é a natureza da brincadeira. É o que faz produzir qualquer forma de arte uma aventura no desconhecido.

Se algum produto cultural, por mais tosco que seja, encontra um público, é porque algum valor o consumidor viu nele. Um valor que muitas vezes o próprio criador desconhecia. Música serve para muitas coisas para pessoas diferentes.

Há muita música feita para finalidades específicas: música para dançar, para louvar a Deus, para andar atrás de trio elétrico , para relaxar, etc e tal. Mas nada impede o ouvinte de apreciar uma música feita para uma situação, em outra, completamente diferente daquela para qual foi originalmente criada.



Conta a lenda que as variações Goldberg foram compostas por Bach para fazer dormir um conde que sofria de uma insônia terrível. Isso não impediu o pianista Glenn Gould de transformar sua interpretação das variações num dos grandes sucessos da história da música de concerto.

Por mais que irrite os criadores (e como irrita!), é a crítica que tem o papel de classificar música.

Essa classificação não é um processo instantâneo e definitivo, como as listas querem fazer acreditar. Pelo contrário, é lento e tortuoso o caminho que leva qualquer música a se tornar um clássico.

Só o tempo,muito tempo, determina o que fica e o que vai ser esquecido. Querer adiantar a história e inventar o clássico, antes que o tempo faça o seu trabalho de depuração, é pura perda de tempo.

6 de nov. de 2009

Paul McCartney dá música e vídeo via Topspin












Esse vídeo faz parte dos presentes do mítico Paul McCartney para divulgar seus novos CD e DVD, gravados ao vivo em Nova Iorque. Através do Twitter recebi a informação de que canção e vídeo estavam disponíveis gratuitamente em seu site.

Para os que ainda acham que têm que proibir o compartilhamento de arquivos musicais, aí vai uma lição de um dinossauro que está se adaptando para não entrar em extinção.

O e-mail que recebi para confirmar meu interesse em baixar os presentes veio da Topspin. Para quem ainda não conhece, é uma plataforma que promete revolucionar o mercado musical e municiar todos os artistas com as ferramentas necessárias para se divulgar e distribuir online, conecetando-se diretamente com os fãs.

A Berklee, tradicional escola de música americana está abrindo um curso só sobre marketing online com essa plataforma. Veja o vídeo:












Esse é um negócio a se observar. Quando conversei na terça-feira em Sampa com Juliano Polimeno da Phonobase, ele me falou muito da Topspin, especialmente do seu foco em dados. Eles teriam como saber exatamente como são cada um dos fãs que cruzam seu caminho! Parece um caminho importante.

Vou fazer um levantamento sobre o assunto para um próximo post.

Por enquanto, divirtam-se com o material inédito do meu Beatle favorito.

28 de out. de 2009

Minha posição em relação à música gratuita

Acho que preciso esclarecer algumas coisas em relação ao que eu penso sobre música gratuita na internet:

1) Não faço parte de nenhuma das duas torcidas mais comuns. Não acho que tudo tem que ser gratuito e acabou, nem posso concordar com que se tente punir quem baixa música de graça.

2) Não acho que a gratuidade seja uma meta. Ela é um mal irreversível para os artistas em atividade, contra o qual é tão inútil lutar, como não concordar com a lei da gravidade.

3) A música tem custo e valor, ela não é feita de graça. A música grátis tem que fazer parte de uma estratégia para divulgar e vender - seja música, ingressos de shows ou merchandising.

Digo essas coisas porque sinto que preciso me posicionar para não ser colocado como exemplo de posturas que não tenho.

Faço parte do Música Para Baixar porque acredito que não haja como controlar o compartilhamento de música pela internet. E que, em diversos casos, o controle seria péssimo para a cultura. Vejam os casos de discos que estão fora de catálogo. O desinteresse de uma gravadora em lançar o repertório de determinado artista colocava-o no ostracismo irreversível. Que direito têm as gravadoras de impedirem a sociedade de ter acesso a um bem cultural? Quantas jóias ficavam trancadas nos cofres dos detentores de direitos autorais e agora circulam livremente pela rede, beneficiando artistas e público? Processar os fãs, ou impedir que eles tenham acesso ao que desejam, nunca me pareceu uma estratégia muito inteligente para se conquistar mais fãs. Outro dia – outubro de 2009! - vi um advogado da indústria do disco dizer que a forma de se controlar os downloads “ilegais” é usando de tecnologia e que o DRM é uma forma eficiente de fazê-lo. Em que mundo essa pessoa vive? Todo mundo desistindo do DRM e ele achando que é solução!

Quais a principal vantagem da gratuidade? Divulgação. A música gratuita chega muito mais facilmente às pessoas, já que elas podem conhecê-la antes de se decidir a gastar dinheiro. Se você não der, a possibilidade de que as pessoas queiram se arriscar no escuro é infinitamente menor. Se compararmos ao preço do jabá para ter execução em rádio, o compartilhamento de arquivos é uma bênção para os artistas. Os fãs fazem o trabalho que precisamos, sem cobrar, e gratos pela nossa generosidade. Daí o mote do Música Para Baixar: Fã não é pirata! É divulgador. E esse quer nos ajudar financeiramente para que continuemos a dar o que ele quer: música de qualidade.

Quando as rádios começaram a executar música as gravadoras acharam que ela seria danosa para as vendas, porque ninguém compraria algo que estava sendo entregue de graça nas casas das pessoas. E nada foi tão importante para divulgar e vender música quanto o rádio. Estamos no mesmo caso. Nada divulga e populariza tanto a música quanto o acesso gratuito à mesma.

Por outro lado, não quero o fim do direito de autor – embora ache que ele precise ser revisto -, não acho que a cultura é social e gratuita por princípio, não quero o fim das gravadoras. E quero ganhar dinheiro sem culpas esquerdistas.

Resumindo, não há negócio nem profissão que seja totalmente gratuito. Alguém tem que pagar alguma coisa em algum momento para que haja profissionais sobrevivendo daquele negócio. Mas a proibição de compartilhamento de música na rede, além de impossível, não vai ser o esteio financeiro dessa história. Quero que abracemos a gratuidade como uma das ferramentas para nos aproximarmos do nosso público e criarmos uma outra forma mais inteligente e contemporânea de ganharmos a vida fazendo música. Dialogando o @penas, música é profissão, sim. Mas muito diferente do que já foi.

19 de out. de 2009

Oposição ao projeto da resposta gradual do governo britânico aumenta de tom



Mais um artigo muito bom do Remixtures que nós reproduzimos aqui. Recomendo a todos que não deixem de ler os outros posts. O Miguel Caetano escreve muito mais frequentemente que nós e tem sempre um milhão de informações relevantes para quem se interessa pelo assunto.

Com que o governo britânico não deveria estar a contar era que o projecto de implementação de um sistema de resposta gradual em três etapas contra a partilha não autorizada de ficheiros apresentado pelo Secretário dos Negócios Peter Mandelson em Agosto fosse recebido com tanta animosidade.

Depois de um deputado do próprio executivo trabalhista de Gordon Brown ter proposto uma moção de oposição à suspensão do acesso à Internet dos alegados partilhadores, uma comissão parlamentar publicou um relatório onde arrasa completamente com a resposta da indústria discográfica à partilha de ficheiros e a sua incapacidade em apresentar alternativas legais populares aos sites de torrents e P2P. Como se isto não bastasse, o ISP britânico TalkTalk veio mais uma vez relembrar aos detentores de direitos e ao governo porque é que é injusto cortar a ligação de banda de larga de alguém apenas com base num endereço IP.


Quando o proprietário do endereço IP não é o culpado

A relação conturbada entre a TalkTalk e os detentores de direito não é propriamente recente. Há cerca de ano e meio a companhia garantiu que não iria aceitar servir de “cão de guarda” da indústria discográfica apenas porque esta tinha sido incapaz de se ajustar às mudanças tecnológicas. Mais recentemente, em Junho passado, o seu director executivo Charles Dunbstone afirmou que será sempre impossível travar a partilha não autorizada de músicas e filmes.

Como que para certificar-se de que a mensagem chegou a quem de direito, a TalkTalk resolveu agora demonstrar na prática a sua aquilo que já toda a gente com alguns conhecimentos de tecnologia e segurança informática sabia: não é justo sancionar um utilizador apenas porque a sua rede sem fios foi empregue sem o seu conhecimento para cometer um acto ilícito.

O ISP enviou um perito em segurança informática a uma rua de um bairro residencial de Stanmore, uma cidade pertencente ao condado de Middlesex, nos arredores de Londres. Uma vez aí chegado, ele começou a procurar por redes Wifi:

No período de algumas horas ele identificou 23 ligações sem fio na rua, mais de um terço do tal – que se encontravam vulneráveis a intrusões,” escreveu o director de estratégia e legislação da TalkTalk Andrew Heaney no blog da empresa. Dessas ligações, seis por cento estavam totalmente abertas (sem qualquer tipo de encriptação) e 28 por cento utilizavam tecnologia WEP, um protocolo de encriptação de dados que pode ser facilmente derrubado.

Após violar a segurança dessas redes (cujos proprietários tinham previamente dado autorização para tal), o perito copiou então uma série de downloads legais de músicas, incluindo o tema “Mandy” de Barry Manilow e a banda sonora do filme Peter’s Friends. Das 68 ligações WiFi encontradas, apenas uma usava WPA2, o protocolo de segurança mais forte. A maioria (65%) estava protegida com WPA que desde Agosto deste ano já não é considerado invulnerável.

Se estes resultados até não são tão maus assim, é preciso salientar que num outro bairro de Londres o mesmo perito descobriu que 41 por cento das ligações estavam vulneráveis. Segundo a TalkTalk, estes testes comprovam que a resposta gradual proposta pelo governo é completamente impraticável. Mais ainda, se levado às ultimas consequências, este sistema irá comprometer gravemente o princípio da presunção de inocência e, consequentemente, os direitos fundamentais dos cidadãos.

Já a pensar nestes eventuais problemas, no seu projecto de lei HADOPI o governo francês exige que o internauta seja responsável por garantir a segurança da sua ligação. Quem não cumprir, arrisca-se ao pagamento de uma multa. Mas segundo a TalkTalk, “é absurdo responsabilizar legalmente as pessoas pelo tráfego das suas ligações à Internet e exigir-lhes que impeçam qualquer tipo de tráfego não autorizado.”

COMISSÃO PARLAMENTAR: As editoras discográficas é que são as culpadas do problema da partilha de ficheiros

Enquanto isso, o All Party Parliamentary Communications Group (apComms) – um comité composto por deputados e lordes que se destina a estabelecer a ponte entre a indústria dos media e o Parlamento -, publicou um relatório que tinha vindo a ser elaborado desde Abril e que, entre outros temas relacionados com a privacidade, a pedofilia e a segurança no meio digital, trata da partilha de ficheiros. E as suas recomendações não podiam ser mais avassaladoras para as esperanças do executivo de cortar a ligação à Internet dos alegados partilhadores britânicos:

58. Concluímos que o problema da partilha ilegal de material protegido por direitos de autor foi provocado pelos próprios titulares de direitos e a indústria musical em particular foi bastante lenta a disponibilizar alternativas populares legais.

59. Consideramos que o corte do acesso dos utilizadores finais é totalmente inconsistente com as políticas de promoção do governo electrónico e recomendamos que se coloque de lado esta forma de lidar com a partilha ilegal de ficheiros.

60. Consideramos que é inapropriado tomar opções políticas no Reino Unido numa altura em que a Comissão Europeia e o Parlamento Europeu ainda não chegaram a um consenso nas suas suas negociações relativas ao Pacote Telecom. Recomendamos que o Governo termine o seu processo actual de tomada de decisões política e o recomece com uma nova consulta assim que a União Europeia tomar as suas decisões.

Outra questão bastante importante para os utilizadores da Internet abordada no documento tem a ver com a defesa da neutralidade da rede. Neste sentido, os parlamentares britânicos defendem a posição assumida recentemente nos Estados Unidos pela Comissão Federal das Comunicações (FCC) de converter os princípios de base de uma Internet livre e aberta em leis:

212. Recomendamos que a Ofcom (entidade reguladora do mercado de telecomunicações britânico) mantenha em análise a questão da “neutralidade da rede” e inclua uma secção em cada relatório anual que indique se existem ou não sinais de mudança.

214. Recomendamos que a Ofcom legisle no sentido de exigir aos ISPs que indiquem claramente uma velocidade mínima garantida para as ligações de banda larga.

Por fim, uma sondagem online encomendada pelo Open Rights Group (ORG) à empresa de estudos de opinião YouGov baseada numa amostra de 1967 indivíduos de idade adulta revelou que 68 por cento dos inquiridos consideram que os indivíduos acusados da partilha não autorizada de ficheiros deveria ter direito a um julgamento imparcial antes de ser alvo de uma suspensão ou de qualquer outro tipo de sanção. Em contrapartida, apenas 16 por cento disse ser a favor de suspensões automáticas. Mais importante do que isso: 31 por cento admitiu que pensaria muito bem antes de votar num partido que apoiasse tal tipo de medidas. Um recado que deverá ser certamente levado em conta por todos os partidos actualmente no governo de países europeus.

(foto de alsokaizen segundo licença CC-BY-NC 2.0)

14 de out. de 2009

A Música Brasileira precisa de todos nós!!


Quarta-feira que vem, dia 21 de outubro, será uma data importantíssima e definitiva numa luta da Música Brasileira que começou há alguns anos. Será votada a PEC – Projeto de Emenda Constitucional - que isentará a música nacional de impostos para a venda, o que já acontece com livros, revistas e periódicos. Em alguns casos, o peso do imposto no preço de um CD beira os 30% e para as compras pelo celular, chegamos a 40%!

Para que o Projeto se transforme em Emenda Constitucional precisamos de 3/5 do total dos deputados votando favoravelmente. Isso é algo muito difícil de conseguir. Primeiro, por conta do quorum – eles precisam estar presentes no Plenário -, depois pelo número de votos que é muito alto. Se conseguirmos vencer essa batalha, haverá outra votação igualzinha para confirmar o resultado – é, mudar a constituição não é nada fácil. Nessa ocasião teremos que nos mobilizar novamente.

O que vocês podem fazer? Mandem e-mails, liguem, incomodem os deputados dos seus estados para que eles estejam presentes à votação e ajudem a música brasileira com seu voto.

Aqui vai uma sugestão de texto, para facilitar o trabalho de vocês:

Exmo. Senhor Deputado xxxxxx

Venho pedir em nome da Música Brasileira que o senhor esteja presente à votação da PEC da Música, dia 21 de outubro, quarta-feira, e que nos ajude nessa cruzada cultural com o seu voto.

Vamos incentivar uma forma de arte que tão bem representa o talento do povo brasileiro. Nós, o povo, contamos com o senhor.

Agradecido (a)

xxxxxxxxxxxxxxx


Aqui está o link com os e-mails, partidos e estados de todos os deputados. Mãos à obra. Nós precisamos de vocês. Ficamos muito gratos com o seu engajamento.

Quem tiver dificuldades em achar os endereços eletrônicos dos deputados, avise aqui que eu ajudo

13 de out. de 2009

O grátis como uma arma


Free, do Chris Anderson, editor da Wired, é um livro inspirador. História, negócios, cultura e tecnologia em torno do custo zero.O livro é cheio de insights inspiradores de saídas para alguns dos impasses atuais, propondo estratégias para prosperar partindo de um modelo de grátis – mesmo que aqui e ali ele force um pouco a barra para provar sua tese. Ora, tecer loas ao Second Life, a esta altura do campeonato, é no mínimo estranho.

Como disse alguém numa resenha na Amazon: é um bom início de conversa.

Como não podia deixar de ser, o livro também trata do negócio da música. Há uma passagem em que Anderson narra o nascimento da música transmitida por rádio e o consequente surgimento das paradas de sucesso. Me lembrou a batalha que hoje é travada entre as webradios e as detentoras dos direitos das músicas.

Aqui vai o trecho traduzido:

***

Há setenta anos atrás, uma batalha (...) foi travada em torno da música gravada. No final dos anos 30, o rádio estava emergindo como um formato de entretenimento popular, mas também mexeu com as antigas formas de remuneração dos músicos. A maioria das rádios naquele tempo era ao vivo e os músicos e compositores eram pagos por performance única. Mas, para os artistas, essa forma de pagamento não parecia justa, já que estavam sendo transmitidos para milhões de ouvintes. Se esses millhões fossem colocados numa sala de concerto, a parte dos músicos na receita seria muito maior.

As rádios argumentavam que era impossível pagar baseados em quantos ouvintes estavam sintonizados porque ninguém sabia ao certo que número era esse. Mas a ASCAP, com seu quase-monopólio sobre os artistas mais populares, ditava as regras. Insistia em royalties de 3 a 5 por cento da renda bruta dos anúncios em troca do direito das rádios tocarem a música. Pior, ameaçava aumentar essa taxa quando os contratos expirassem em 1940.

Enquanto as rádios e a ASCAP negociavam, as rádios passaram a tomar conta da situação e cortaram inteiramente as transmissões ao vivo. A tecnologia de gravação estava melhorando e mais e mais rádios começavam a tocar discos, que eram introduzidos por um locutor do estúdio chamado disk jockey. As gravadoras responderam vendendo discos estampados com "SEM LICENÇA PARA EXECUÇÃO EM RÁDIO", mas em 1940 a Suprema Corte declarou que a estação de rádio, ao comprar o disco, poderia tocá-lo. Então a ASCAP convenceu seus membros mais proeminentes, como Bing Crosby, a simplesmente parar de gravar discos.

Deparando com a fonte de músicas executáveis encolhendo e uma exigência de royalties potencialmente ruinosa, as rádios passaram a organizar sua própria agência de royalties, a Broadcast Music Incorporated (BMI). A BMI em ascensão se tormou um imã para músicos regionais, tais como artistas de rythm-and-blues e country-and-western, que eram tradicionalmente preteridos pela ASCAP baseada em Nova York. Devido ao fato desses músicos menos conhecidos desejarem mais exposição que dinheiro, concordaram que as rádios transmitissem sua música de graça. O modelo de negócio de cobrar das rádios uma fortuna pelo direito de transmitir música entrou em colapso. Por sua vez, o rádio foi reconhecido como o principal canal de marketing para os artistas, que faziam seu dinheiro vendendo discos e apresentações.

A ASCAP desafiou este estado de coisas com vários processos nos anos 50 e 60, mas nunca recuperou o poder de cobrar royalties altos às rádios. As rádios de graça mais royalties nominais para artistas criaram a era do disk jockey e, por sua vez, o fenômeno das paradas de sucesso. Hoje esses royalties são calculados baseados numa fórmula envolvendo tempo, alcance e tipo de estação, mas são baixos o bastante para as rádios prosperarem.

A ironia foi completa. Em vez de enfraquecer o negócio da música, como a ASCAP temia, o Grátis ajudou a indústria da música a se tornar imensa e lucrativa. Uma versão inferior grátis da música (baixa qualidade, disponibilidade imprevisível) passou a ser ótimo marketing para uma versão superior paga e a renda dos artistas passou da apresentação para os royalties de gravação. Agora, o Grátis proporciona novamente uma troca, à medida em que música gratuita serve como marketing para o crescente negócio do shows. O único fator que permanece inalterado, como era de se esperar, é que as gravadoras ainda são contra.

9 de out. de 2009

Fazendo as pazes II - Na Inglaterra os artistas pedem a palavra


John Newton da P2Pnet teve uma conversa com Billy Bragg - artista inglês de rock alternativo e membro da FAC (Featured Artists Coalition), organização de artistas que procura se posicionar coletivamente sobre os problemas da profissão nesses novos tempos - e chegaram a quatro pontos para tentar um entendimento entre todas as partes interessadas. Aí incluídos, especialmente, artistas e fãs.

1. Os criadores querem e precisam ser pagos e nós, amantes da música, queremos pagá-los.
2. Tentar usar sanções técnicas para resolver o “problema da pirataria” não vai funcionar de jeito algum.
3. Temos que começar a conversar, e manter as conversas abertas, até encontrarmos caminhos para solucionar os vários assuntos que têm nos mantido separados.
4. Precisamos de um espaço na internet onde todos possam se encontrar e encontrar soluções inteligentes, sem animosidade.

Está nos planos o lançamento de um blog no futuro próximo para que esse encontro se realize.

É muito louvável essa medida dos artistas ingleses, que estão procurando ter voz ativa no processo ao invés de deixarem as gravadoras, os governos e os “piratas” conduzirem esse barco.

Essa foi a intenção do meu primeiro texto “Fazendo as pazes”. Quero que todos os envolvidos, mas especialmente artistas e fãs – que são quem realmente importa nessa história, o resto é facilitador ou atravessador – possam tentar chegar a uma conclusão dos caminhos que possam ser bons para todos.

Estou esperando os artistas por aqui. Querem me ajudar a convocá-los?

2 de out. de 2009

As Histórias do Jabá - Yes, nós temos jabá!!















Dentro de alguns dias vou lançar meu e-book gratuito, "Manual de Sobrevivência no Mundo Digital", baseado nos artigos que escrevi sobre o assunto no blog do meu site.

As críticas e comentários de vocês me ajudarão a formatar um livro que pretendo lançar fisicamente - dando os devidos créditos, é claro.

Relendo para fazer correções, achei esse trecho interessante sobre jabá, que mostra como ele ajudou a dinamitar a indústria da música e a torná-la irrelevante - e desnecessariamente cara.

Resolvi então colocar no Música Líquida para degustação de vocês.


As histórias do jabá

Quando a maioria das rádios se interessava por música, o lançamento de um artista importante era disputado a tapa pelas principais emissoras. Todas queriam exclusividade. Por exemplo, quando a Warner ia lançar um novo single da Madonna, procurava saber que rádio estava em primeiro lugar na audiência em cada cidade importante e dava a esta uma ou duas semanas de exclusividade de execução. Com tal privilégio a rádio era beneficiada com ainda mais audiência interessada em ouvir em primeira mão a nova música da artista. Um jogo com vários ganhadores: a gravadora, o artista e a rádio beneficiada. Com isso a gravadora conseguia convencer as rádios a tocarem outros artistas do seu cast. A moeda de troca era música.

Há alguns anos atrás, quando os CDs vendiam horrores e o jabá imperava, se Deus, pessoalmente – o Deus que você quiser -, viesse à Terra para visitar uma emissora de música jovem com retransmissoras por todo o território nacional e dissesse que compôs uma canção divina, com melodia sublime, uma letra celestial, embora escrita em linhas tortas, e que, na sua banda, o solo de guitarra foi tocado pelo Jimi Hendrix, o de trompete pelo Miles Davis, nas guitarras e nos backing vocals ele contou com John Lennon e George Harrison, que a Janis Joplin, a Cássia Eller, a Elis Regina, o Tim Maia e o Elvis Presley completaram o coro, ele ouviria um muxoxo desinteressado e algumas frases sobre a canção não se adaptar ao perfil da rádio, que os artistas não são jovens, que faz tempo que eles não lançam nada novo, que o programador tem que escutar, mas que tem muita coisa esperando na fila e no final viria uma sugestão de “promoção” que ficaria entre R$ 30.000,00 e R$ 50.000,00 para 40 dias de execução, duas vezes por dia e algo sobre renovar o “acordo” depois disso. E a música? Provavelmente nem seria ouvida. Porque isso não é mais o que importa.

Claro que essa postura fez com que, cada vez menos, esse seja um veículo para descobrir artistas interessantes e diferentes. O veículo ficou mais importante que o seu conteúdo.

O custo do jabá

Essa também foi a razão do CD, que como produto é mais barato que o vinil, ter ficado tão caro. Imagine que você tenha que divulgar um artista de grande porte e que, só na rádio, você vai “investir” R$ 500.000,00. Se a previsão de vendas é de 500 mil discos a “promoção” já encareceu um real cada exemplar. Se pusermos em cima disso o lucro do vendedor (mais um real) e impostos, o CD tem que custar R$ 2,50 a mais, pelo menos. Mas quantos CDs vendem essa quantidade? Os que vendem têm que pagar pelos que não vendem. Como eles acertam um em cada dez, a conta vai ficando salgada.

22 de set. de 2009

Lily Allen se enrola ao copiar texto do Techdirt

Deu n'O Globo. A falta de uma compreensão real de como as coisas funcionam em tempos digitais geram situações patéticas como esta. Hipocrisia ou burrice? Você decide.

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RIO - Depois de postar uma crítica ao download ilegal de arquivos em sua página no MySpace, Lily Allen entrou de vez na encarniçada batalha da música digital. Posicionando-se claramente contra a Featured Artists Coalition (FAC), entidade que reúne artistas como Radiohead, Robbie Williams, Annie Lenox e Tom Jones, ela acaba de criar o blog "It's not allright" ("Não está certo"), que tem recebido apoio de artistas como James Blunt ou Matt Belamy, da banda Muse, todos contrários ao compartilhamento livre de arquivos. "Lily Allen é nossa líder", exagerou Blunt.

A adesão de seus colegas não livrou Lily de nova e irônica polêmica: ela copiou, sem dar o devido crédito, um post sobre o rapper americano 50 Cent, publicado originalmente no site Techdirt.com. No texto, o rapper diz acreditar que a pirataria faz parte do marketing da música e que lutar contra ela é inútil. "Isso é particularmente egoísta, do meu ponto de vista. Parece que ele pensa apenas em como a pirataria pode afetá-lo. E os caras que dão duro no estúdio? E os garotos que correm a cidade colando posteres?", questiona Allen.

Já Mike Masnick, autor do texto original, ironizou a lógica dos argumentos de Allen. "É maravilhoso que Lily Allen dê tanto valor aos nossos posts, a ponto de decidir copiar - ou deveria dizer 'piratear'? - um texto inteiro", provocou Masnick, em entrevista ao blog TorrentFreak.

***

Leia o resto da matéria aqui.

Taxa sobre streaming de música quase matou webrádio nos EUA




Tirei esse texto do Estadão de domingo, escrito por Rafael Cabral. Serve para mostrar a insensatez da indústria da música, que, para proteger o que já ficou no passado, acaba matando o seu futuro. Precisamos começar a negociar logo taxas mais justas de remuneração na internet, que permitam que os novos negócios se firmem e nos tragam o futuro. Que sempre chega, ainda bem.


Nascido em 2004, o Pandora fez história na internet como uma rádio online que criava listas baseadas no “DNA de suas músicas preferidas”. Por conta de decisão de 2007 da Comissão Federal de Direitos Autorais dos EUA, no entanto, o negócio ficou inviável. Os sites em streaming teriam que pagar royalties de cerca de US$ 0,19 cada vez que uma música fosse executada. Seu fundador, Tim Westergren chegou a declarar ao Washington Post que pensava em “tirar o site da tomada” e que seria o fim da transmissão musical pela web. “Era uma decisão radicalmente injusta e ilógica da indústria”, disse ele, em entrevista ao Link.

Mas em vez de se conformar em perder para o lobby das rádios AM/FM, o empresário decidiu criar também o seu: os 46 milhões de usuários de cadastrados no Pandora. Westergren se organizou com outros sites e denunciou a medida, que claramente beneficiava as emissoras tradicionais. No dia 26 de junho de 2007, eles realmente “puxaram a tomada” – mas apenas em um protesto que seria determinante para forçar um reajuste que significaria nova vida para os sites em streaming.

Seria essa a primeira vez que as rádios online conseguiam resistir à pressão da indústria e, principalmente, de suas concorrentes offline – essas sim, diz Westergren, com um modelo de negócio fadado a acabar. Foi justamente pela insatisfação que elas causavam ao então pianista e produtor musical que surgiu o Pandora.
A experiência das rádios online não poderia ser mais diferente. Nós, por exemplo, temos uma coleção de 700 mil músicas, 90% delas tocadas no mês passado. Isso jamais aconteceria em emissoras comuns”, defende. Não há como negar, no entanto, que o Pandora sofreu o baque de concorrer com elas. Hoje o site é restrito aos Estados Unidos, cobra taxas de quem ouve mais que 40 horas por mês e seus usuários são impedidos de repetir faixas ou pular músicas.

Mas Westergren já tem um plano B: a telefonia celular. “Os dispositivos móveis são o caminho; 30% da nossa audiência já vem de celulares, com apenas um ano no mercado”, diz. “Eles são a chave para lugares que apenas rádios tradicionais ocupavam"
Estações online miram o celular
Assim como o Pandora, a rede social de música Last.fm, que também funciona como uma rádio online, teve de começar a cobrar seus ouvintes em março deste ano (exceto aqueles de fora dos Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha) para continuar existindo.
Derrotados pela lei, os sites em streaming começaram a apostar na audiência da telefonia móvel, disposta a pagar por serviços. Acertaram em cheio.
As plataformas móveis estão revitalizando esse mercado, que estava em vias de falir por causa da questão dos royalties.Tanto o Pandora quanto o Last.fm têm aplicativos para o iPhone, Palm Pre, Blackberry e Android.

Segundo o fundador do Pandora Tim Westergren, três quartos dos assinantes da versão móvel não ouviam rádios na internet e foram atraídos pela simplicidade do streaming em contraste com os MP3 players comuns.

“Mais do que nunca, acho que o futuro próximo está nas plataformas móveis, que nos levam para os lugares que 80% das pessoas ouvem rádio: suas casas, carros e na rua”, explica. Além disso ele explica que usuários do Pandora em celulares clicam quase duas vezes mais em anúncios do que aqueles que o acessam pelo computador.

16 de set. de 2009

Fazendo as pazes – os comentários

Antes de qualquer análise do que foi escrito a respeito do último post, quero salientar a coincidência de receber, via Twitter, um artigo do Ted Cohen - que já foi um alto executivo da EMI e hoje dá consultoria para empresas sobre entretenimento digital - que foi sintetizado no Hypebot sob um título muito parecido com o nosso: Give Peace a Chance. O original se chama A Delicate Balancing Act e merece uma lida na íntegra. Lá ele argumenta que a guerra entre detentores de direitos autorais, de um lado, e usuários e novos negócios, de outro, está criando uma espiral mortal. Diz ainda que uma trégua tem que ser tentada imediatamente. Ele acena com a tarifa plana, se pergunta se ela daria certo e se responde que o único jeito de descobrir é tentando. Mais material para o nosso bate-bola. Quando eu tiver tempo, traduzo para postar no Música Líquida.

****

Demorei muito a voltar por aqui, porque, além de ter andado muito ocupado com outros textos – canções e um livro em andamento -, os comentários aqui foram tão profundos e diversos que foi difícil pensar em como dar prosseguimento a esse tópico. Achei melhor, antes de partir para a segunda parte do assunto, discutir um pouco mais as dúvidas que apareceram. Os comentários demonstram as muitas posições e ideias da sociedade como um todo. Tentei separar em assuntos para facilitar as respostas.

1) Tarifa plana
A proposta da tarifa plana criou alguns debates, inclusive um que rolou por e-mail, paralelo ao Música Líquida, com o Beni Borja e o Gilberto Martins (advogado especializado em direitos autorais na internet).

a) imposto numa hora dessas?
A tarifa plana seria um imposto agregado ao valor das assinaturas de banda larga, proporcional ao tamanho da mesma. Ora, a criação de qualquer imposto é sempre algo muito impopular. Em época de eleição, ainda... Para isso o Governo deixaria de ser o mediador dessa conversa para se transformar no principal agente. Caso ele não conseguisse a aprovação dos detentores de direitos autorais, teria que “desapropriar” inúmeras obras para disponibilizá-las na rede. A guerra continuaria. E os direitos adquiridos? Qual valor seria justo? A solução que pareceu mais viável é começarmos com negociações, como as de uma convenção coletiva de consumo – que é puramente negocial. Tomara que alguém entenda disso para me explicar melhor, porque fiquei boiando. As leis viriam mais tarde, a reboque de uma prática social consolidada. Não é simples coincidência que tenham aparecido tantos artigos relacionados à tarifa plana na internet ultimamente.

b) como distribuir o imposto arrecadado?
A primeira coisa que foi colocada em cheque foi a idoneidade das concessionárias para a distribuição. Há um medo de que elas se “apoderem” da taxa. Quanto a isso, eu não me preocuparia. Tratando-se de um imposto, ou elas pagam ou vão ter que ajustar contas com o Fisco. Não há como colocar no bolso e ficar por isso mesmo. Quanto a usarem o imposto como desculpa para elevar mais seus serviços, é possível, mas não acho provável. Há muita competição entre elas e uma vontade enorme de atingir cada vez mais usuários. Aumentar seu preço não parece uma atitude inteligente nesse cenário. Mas é claro que não dá para descartar. Quanto a quem vai receber o montante da tarifa plana, temos que usar a tecnologia existente para mensurar quem tem sido mais baixado e quem tem sido mais ouvido, da forma mais eficiente possível. A distribuição tem que ser transparente. É mais um ponto que exige negociação, já que não há modelos implantados para seguirmos.

2) Direitos Autorais
Esse é o ponto fundamental dessa história e eu vou falar mais sobre ele no próximo post. Aguardem. Espero os comentários dos comentários. Adoraria levar esse debare a um outro nível.


31 de ago. de 2009

Música Digital: a solução. Primeira parte - Fazendo as pazes


Há uma guerra velada quando o assunto é baixar música. Por um lado temos os que berram que estão sendo roubados pelas pessoas que baixam músicas sem autorização. Do outro lado, muita gente que torce pelo desmantelamento total da indústria da música, como se isso fosse uma revolução para derrubar o poder. Os dois lados se olham com extrema má vontade e desconfiança. Isso só atrasa a possibilidade de se criar um consenso que nos leve a uma realidade benéfica para todos.

Quero tentar estabelecer uma ponte entre todos os interessados em música, das grandes gravadoras ao partido pirata. Parece ambicioso? Talvez seja, mas acho que é algo possível com um pouco de boa vontade e bom senso. Sei que, a essa altura, já devo estar parecendo estranho para os dois “times”.

Venho participando de muitos encontros diferentes e tenho percebido que o que existe é muita falta de informação. Discursos solidificados em torno de ideias nem sempre muito elaboradas.

Não dá mais para fingir que o mundo é o mesmo do milênio passado, nem que as regras antigas ainda se aplicam nesse novo mundo. Mas ainda há direitos a serem respeitados, contas a serem pagas e acervos maravilhosos nas mãos das gravadoras. A revolução digital nos faz voltar a olhar para o direito autoral e rever os caminhos que tomou, mas não para acabar com ele. O importante é fazer com que o direito do autor não seja um monopólio que impeça o acesso da humanidade a um patrimônio que pertence a todos, mas que ainda incentive os criadores a produzirem cada vez mais em prol da sociedade. E o dinheiro é um grande incentivo.

Para que as conversas possam prosseguir, e não sejam boicotadas por um lado ou por outro, é necessário que haja propostas concretas para se construir o nosso novo mundo.

Mas antes é preciso desmantelar alguns preconceitos.

Vamos aos radicalismos que eu vejo sendo cometidos em ambos ao “lados”, que impedem a troca sensata de ideias.

1) Temos que combater a "pirataria digital".

Em pesquisas nos Estados Unidos e na Inglaterra, uma grande parcela dos “conectados” afirma compartilhar arquivos na internet ou fora dela. Segundo a UK Music, 86% dos jovens ingleses entre 14 e 24 anos já copiaram um CD para um amigo; 75% enviaram musica por e-mail, Bluetooth, Skype ou MSN; 57% já copiaram a coleção de musicas completa de um amigo; 39% já baixaram música. Isso não quer dizer que muito mais gente não baixe música sem o declarar. Ainda mais com as ameaças que a RIAA e o Governo Britânico vêm fazendo. Mas as propostas de punição aos “piratas”, com multas e desconexão da internet, são caras, lentas e ineficientes. Dependem de advogados, juízes e muito dinheiro. E nunca será possível alcançar todos os “infratores”. Os juízes franceses já avisaram que o direito de acesso à internet é, hoje, um direito do ser humano, que também usa a rede para trabalhar, se comunicar, pagar contas, se informar etc. Portanto, para privar um cidadão de tal direito ele tem que ser julgado. Imaginem isso aqui no Brasil, quanto tempo levaria para que alguns usuários fossem “punidos”? Não parece uma solução muito razoável, não é?

Outro detalhe muito importante é que, para que uma pessoa tenha sua privacidade legalmente violada para fins de investigação, o crime em questão tem que ter pena prevista no Código Penal superior a um ano. Para cópia de material protegido sem permissão do autor a pena varia de três meses a um ano. Portanto, não seria um caso em que o tribunal autorizaria a quebra de privacidade, o que inviabilizaria a investigação. Sem investigação não há processo e, muito menos, condenação. O que fazer? Aumentar a pena? Aí, a mudança não é mais do direito autoral, mas do Código Penal.

Tive uma conversa muito boa e longa com o José Vaz do Ministério da Cultura, num vôo entre Brasília e Fortaleza, e ele se revelou fã da tarifa plana para o compartilhamento de arquivos digitais - porque já é consenso no Ministério que o controle é ineficaz. Cobrar uma taxa para quem acessa a internet, proporcional à velocidade de conexão do usuário, para ser distribuída entre os detentores de direito autoral é muito mais simples e barato que correr atrás de perigosos “marginais cibernéticos”. No entanto, esse modelo ainda não foi aplicado em nenhum país do mundo. Não há uma fórmula pronta de arrecadação e distribuição dessa taxa. Precisamos inventar a melhor solução para o Brasil. Essa conversa inicial é importantíssima, mas temos que nos lembrar, também, que quem faz as leis não é o executivo. O Ministério pode propor o que quiser, mas tem que ser aprovado pelo congresso. E para que esse aprove um projeto tão inovador tem que ser muito bem informado a respeito. Até o momento, apenas um lado, o lobby das gravadoras, vem fazendo pressão no congresso. Não sei qual a autonomia das majors no Brasil em relação à política beligerante da matriz, mas é hora delas assumirem uma postura mais aberta nesses debates. Para o bem delas mesmas. Temos que dar voz a todos os atores dessa história para que a solução seja a melhor possível. E temos que conversar muito, sem achar que o outro lado, qualquer que seja o seu, é o dos bad guys.

2) Não devemos processar os fãs, mas não podemos legalizar o download gratuito.

Muitos “conservadores moderados” são contra o download não autorizado, mas não querem processar usuários. Concordam que essa atitude é antipática e inútil. Chegam a recriminar a RIAA. Ora, sem processo não há punição. E sem punição no horizonte, na prática, não há crime. Sem uma pena, o que impedirá o usuário de baixar uma canção? Nada. E não sejamos ingênuos a ponto de achar que uma campanha de conscientização poderia alterar significativamente as práticas sociais. Não conseguimos nem "arranhar" a atividade dos piratas de CDs, roupas, brinquedos etc. com as campanhas na TV. Então, se concordamos que processar nossos fãs não é o caminho, temos que abrir mão das nossas tentativas de controle e começar a imaginar alternativas para sermos remunerados. O download para fins não comerciais tem que ser legalizado. O meio do caminho não vai resolver nosso problema.

Isso é muito diferente da teoria de que “tem que ser tudo gratuito” e que “o artista só vai ganhar nos shows”. Ouvi de um teórico marxista que toda produção é social porque o autor recebeu da sociedade as armas e a bagagem para poder criar e que, por isso, sua obra deveria ser gratuita.

Temos que inventar um novo negócio. Para isso temos que tentar encontrar um caminho que ambos os “lados” possam percorrer juntos, sem radicalismos. Não é hora de buscarmos o confronto, mas os pontos em comum.

Continua em breve. Mas antes queria muito ouvir as opiniões de todos a respeito dessa questão.

28 de ago. de 2009

Lançamento de livro 2.0

Leio no Webinsider um texto do Fernand Alphen sobre a ousada estratégia de uma editora francesa. A ideia é lançar livros usando os blogs e a circulação da informação a favor do negócio.

Fora os suspeitos habituais independentes de que tanto comentamos aqui, não há no horizonte das gravadoras algo semelhante.

Vejam:

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Quando o livro ainda está manuscrito, a editora envia uma cópia, digitalmente é claro, para cerca de 200 leitores que se interessam pelo tipo de literatura em questão. Até aí, nada de novo: as editoras sempre fizeram esse tipo de teste.

Mas o que é diferente é que esses leitores estão devidamente conectados com seus próprios blogs e redes. A turma do sem-blog não serve, assim como não interessa quem só escreva em veículos especializados dead tree society.

A segunda novidade é que essas pessoas estão autorizados a divulgar criticas e o que quiserem do livro para seus leitores, mesmo que seja para destruir a obra ou xupinhá-la. Já sacaram que censura, jabá cozinhado e controle de pirataria é feitiço contra o feiticeiro.

Tudo isso acontece muitos meses antes do lançamento. Depois de um tempo, a editora analisa as repercussões, dos blogueiros e da audiência. Isso irá pautar o tipo de lançamento, o investimento na divulgação, e, claro, a tiragem do livro.

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Vocês podem ler o artigo inteiro aqui.